Mês: novembro 2012

Transcrição de palestra com Laurie Cabot

Fiquei imensamente honrada pelo convite e a oportunidade de traduzir a palestra de Laurie Cabot e Chris LeVasseur como parte do Festival de Paganismo Grego organizado pelo templo Faces da Lua no último fim de semana.

Videoconferência com Laurie Cabot e Chris LeVasseur @ Faces da Lua.

Eles falavam, eu anotava e traduzia cada parte para os participantes ali presentes. Muita gente perguntou depois se a palestra fora gravada ou se eu faria uma transcrição em algum lugar. Avisei que minha caligrafia é trágica e às vezes nem eu mesma consigo decifrar o que escrevi. Porém, acho que é possível aproveitar que a memória ainda está fresca depois do evento e tentar recuperar o que for possível dos meus garranchos e anotações. Portanto, aqui vai! –

Transcrição da palestra de Laurie Cabot – High Priestess da Cabot Tradition  acompanhada de Chris LeVasseur, discípulo da tradição. 24/11/2012 Templo Faces da Lua, São Paulo:

Os dois começaram explicando que, do ponto de vista deles, a Bruxaria é tratada como Arte, Ciência e Religião. Eles focam muito na ciência por trabalharam partindo do fato que a atividade cerebral é responsável por despertar nosso poder interior. A diminuição da frequência das ondas mentais é o segredo para o desenvolvimento e acesso de atributos psíquicos. As pessoas sensitivas fazem isso naturalmente, sem perceber que é este o processo. Os bruxos fazem isso ao trabalhar magia e também ao energizar e imbuir suas ferramentas mágicas.

Eles acreditam que através do ato de ensinar essa ciência da Bruxaria para o mundo é que podemos alcançar mais respeito e aceitação de nossas práticas, pois assim somos capazes de explicar de maneira prática porque a Bruxaria é algo bom.

A Física Quântica postula que todas as coisas existem ao mesmo tempo. Quando estamos dormindo, estamos num estado em que acessamos o todo. Mas precisamos acessar este estado de acordo com nossa vontade, para realizar alguma tarefa.

A magia deve ser prática e constante, e não esporádica. É algo que ajuda a fazer acontecer, a saber coisas, a saber com antecedência. Quando sabemos algo com antecedência, podemos parar o processo, escalar ou acelerar.

Todo mundo tem essa capacidade, mas é necessário aprender o controle. Temos desenvolver habilidades psíquicas e também controlar o que entra e o que sai do nosso campo. Para isso, usamos escudos de proteção.

Há séculos sabemos que a magia é real. Agora, finalmente, os cientistas ligados à Física Quântica estão afirmando que a magia é real. Esse é um grande choque para eles.

Mas e como podemos controlar? E como evitar trabalhar a magia pelos motivos errados?

Bem, as regras são bem naturais. O que você fizer, retorna; multiplicado por três ou até dez vezes. Então você é seu próprio juiz ao escolher o que vai trazer para sua vida. É muito simples e tão natural que esquecemos que tudo que vai, volta – até fofoca!

É necessário ter muita atenção aos nossos pensamentos. Há um trabalho de programação para aprender a controlar o que pensamos e dizemos. Quando desenvolvemos nossas habilidades, as coisas ficam mais rápidas, o efeito é mais rápido. É importante aprender a neutralizar o acabamos de dizer quando enunciamos algo que não era nossa intenção e não queremos manifestar.

Assistir ao noticiário é ruim, mas ao vermos notícias de assassinatos, acidentes, etc., devemos parar e neutralizar. Também podemos projetar que o assassino seja apanhado e preso para que não cometa aquilo novamente.

Não devemos assistir a filmes de terror. As imagens são muito fortes, é difícil neutralizar e nós não precisamos de mais terror no mundo. Não assistir esses filmes para não perpetuar essa energia.

A Bruxaria vem sendo trabalhada há muitos anos como devocional, e fala-se em estados mágicos, mas não se ensina como fazer. É uma questão de treinar o cérebro, programar para controlar o cérebro. Quanto mais se pratica, mais fácil vai ficando.

Chris explicou que foi incorporando essa ciência dentro dos aprendizados e técnicas que aprendeu no 1º grau, nos rituais, etc., e fez muita diferença.

Laurie salientou que é tudo muito prático. É diferente de apenas desejarmos alguma coisa, é saber que sua palavra, seu pensamento vai se realizar; não se trata de faz de conta, de mundo de Disney. É uma ferramenta para usar energia real.

Eles não se preocupam em acreditar, se preocupam em saber.

É importante os bruxos e bruxas lembrarem que um de nossos grandes talentos é a cura.  Com o uso de nossas habilidades entramos na energia vital e na aura de outra pessoa. Podemos aprender a energizar com cores para facilitar a cura. Cores diferentes são usadas para doenças diferentes.  Isso vai funcionar nove vezes em dez. Nada funciona 100% das vezes, mas 70 a 90% já é muito bom.  A história da Bruxaria nos mostra que somos curadores.

Em Witchcraft 1 (curso), que o Chris ensina agora é onde se aprende esse trabalho de luz curativa e diagnóstico de doenças a distância, pois se pode visualizar e tocar o paciente à distância.

No primeiro grau da tradição Cabot, isso é verificável e provado. É possível constatar que houve a cura. É fácil testar o diagnóstico feito também, ao comparar com o que a medicina convencional afirmou. No primeiro grau, então, já se tem essa habilidade comprovada. A primeira vez que acontece para o aluno, é um momento dramático.

Todos têm habilidades psíquicas e é sensacional poder verificar isso através de uma perspectiva científica. A meditação é importante, mas não te prepara pra o que você pode fazer com aquilo.

Um exemplo de exercício que eles fazem em aula é descrever alguém que nunca viram e dizer o que está errado com a pessoa.

Está bem que muitas vezes a gente sabe quem está chamando assim que o telefone toca, mas não deve ser esporádico, devemos poder usar essa capacidade quando a gente quer.

O uso do tarot é psíquico, não é memorizado. Eles entram em alfa e a informação vem. Não tem a ver com as cartas.

Você quer que sua magia funcione, que traga resultados. A ciência se soma à magia e manifestação; mas vê-se que é possível ir além. Entender que as entidades estão vivas no outro mundo – isso é palpável – de falar, conversar, contatar Deuses, ancestrais, o que eles dizem é verdade, pois têm uma perspectiva mais clara.

Esse desenvolvimento torna nossa religião mais poderosa. Fazemos vários tipos de ritual e a energia que recebemos é real, é mais poderoso traçar o círculo e a energia vai naquela direção.

Os Deuses às vezes nos ajudam, diferente das outras religiões, nossos Deuses às vezes não atendem, não ajudam, pois querem que aprendamos nossas lições. Porém, em tempos de grave crise, eles operam milagres que seriam impossíveis de superarmos de outra forma.

Devemos trabalhar e desenvolver um relacionamento especial com um Deus ou Deusa específico, uma relação de amizade. Assim, pode ser que esse Deus ou Deusa nos ajude. Não é qualquer um que atende nosso chamado.

Este deve ser um relacionamento pessoal, não só às vezes e não com deuses variados. É importante ter um altar e uma devoção diária dirigida a um Deus ou Deusa na nossa casa, além de nosso altar geral. É preciso alimentar essa relação. Não é para chamar por eles só quando se precisa. Não é tarefa deles ajudar os humanos. Você que tem de fazer sua magia, às vezes eles ajudam.

Assim vamos entendendo qual é a do outro mundo, que é para onde todos nós vamos. É melhor nos familiarizarmos, assim temos menos medo de chegar lá, sem medo da morte.

As várias facetas da Bruxaria

A Bruxaria tem tantas facetas, pode-se estudar uma vida inteira.

Poções empregam ervas, raízes, e isso é real. A energia vai manifestar a intenção das plantas.

A astrologia traz outro entendimento de mundo, como os planetas nos afetam.

Escolha uma especialidade como bruxo, seja porções, trabalho com ervas, astrologia… Veja onde está seu talento.  E também pode tentar aprender de tudo um pouco, pois é tudo interconectado. Ervas estão ligadas à astrologia, algumas são regidas pela lua, outras por Vênus… Temos de saber as diferentes qualidades, como misturar e como imbuir energeticamente para poder fazer a magia.

Velas é um trabalho mais fácil e a magia fica mais poderosa ao acrescentar cores, que estão ligadas ao planeta que rege aquela cor.

Por exemplo, o preto não é usado para malefícios. Para obtermos o preto, há que se combinar todas as cores, portanto ele puxa as cores e luzes de todos os planetas e puxa a magia para nós.

O branco reflete e envia a mensagem, o preto puxa e manifesta.

Cada cor do arco-íris tem sua influência regida por um planeta. Mas não é tão simples usar, sempre tem mais…

A parafina ou o material da vela também faz diferença, cera de abelha é mais pura.

Pode se usar ervas e cristais para magias bem mundanas. Acrescentar um cristal programado no pote de hidratante de rosto, por exemplo, ou ervas também. assim você trabalha sua beleza física e mágica juntas.

Mas preste atenção, pois da mesma forma que temos alergia a certas substâncias, também não nos damos bem magicamente com todas as substâncias.

Outra linha de trabalho mágico é a magia de cristais, ou seja, são muitas facetas. Às vezes não sou bom naquilo, ver onde está sua especialidade.

Imbuindo ferramentas mágicas com a sua energia

Chris reforça que eles falam muito em habilidades psíquicas, mas que isso não é só para prever coisas e fazer adivinhação, mas para controlar e dirigir energia.

Para energizar, imbuir uma ferramenta, entrar primeiro em estado alfa e dirigir a energia luminosa usando sua habilidade. Nas aulas eles testam depois as varinhas que foram energizadas e sentem a ferramenta mágica projetando energia na mão. Podemos imbuir as ferramentas e os cristais com nossa energia pessoal.

Laurie explica que a aura ao nosso redor é real, a aura da varinha também existe por conta de seu material. No estado alfa, você projeta a sua energia para dentro da aura da varinha, por exemplo.

Ciência dos Cristais

A ciência dos cristais está ligada a ressonância elétrica que eles possuem. Se tomar um banho de banheira com um quartzo branco gigante, e o cristal se partir, você pode ser eletrocutado. O governo (americano) usa cristais na construção de mísseis para que não percam a direção. Eles cortam um cristal grande ao meio pela base e aplicam uma metade de cada lado do míssil, e as metades ficam enviando impulsos elétricos ritmicamente de um lado a outro.

Um relógio de quartzo usa um cristal muito diminuto, e mesmo daquele tamanho o cristal faz funcionar o relógio.

O estado alfa

O estado alfa é um nível de onda cerebral, o mesmo do sono. Durante o sono, descemos ainda mais e chegamos ao estado teta, mas é no alfa onde a magia acontece. Então precisamos reproduzir o estado alfa pela nossa vontade.,

Estado beta é o estado quando estamos acordados.

Assim que fechar os olhos por mais de três minutos, o cérebro baixa a onda para o nível alfa. É quando todos temos acesso a onde se envia a energia para a manifestação do feitiço.  O cérebro é um computador, ao treiná-lo para fazer isso você se torna uma máquina que tem controle de seu poder.

Também estão anotadas as respostas às perguntas feitas pelos participantes. Essa parte, prometo acrescentar em um outro post.

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A Grande Mãe Cósmica

Estou finalmente lendo o clássico: The Great Cosmic Mother, Rediscovering the Religion of the Earth, escrito por Monica Sjöö e Barbara Mor, uma das grandes (também em número de páginas) obras que ajudam a entender melhor as origens do culto ao divino feminino e suas raízes ancestrais na experiência espiritual – e biológica – dos seres humanos.

Cada página traz informações relevantes, algumas são novas, mas na maioria, elas são, para mim, reafirmações e revalidações de outras, apanhadas em palestras, leituras e sacações daqui e dali. Já li muitos outros livros que inclusive citavam este em sua bibliografia, ou seja, é meio fonte de vários dos pensamentos e ideias que circulam nos meios pagãos.

Eu mesma levei muito tempo para me entender e me gostar sendo mulher. Demorei a apreciar o universo e  força do feminino. Cresci envelopada numa cultura mega patriarcal gaúcha e comprei bonito todos os ideais de competência, competitividade, força e rigidez do mundo masculino. Considerava minhas emoções uma fraqueza e reprimia boa parte delas, inclusive as ligadas a demonstração de afeto e abertura para criação de vínculos afetivos. Não é por menos que, para poder me reequilibrar, fiz biodança, bioenergética, terapia junguiana, rodas de cura xamânica e precisei virar atriz! O paganismo, mais voltado no meu caso para a celebração da Deusa, foi a cereja do bolo nesse meu processo de busca de valorização pessoal e entendimento do meu papel no mundo.

Mas é difícil mesmo superarmos tantas ideias já ultrapassadas que seguem agindo dentro de nós por estarem entranhadas na cultura e quiçá até em algum código genético que passamos de pais para filhos.

Por isso sempre vale lembrar que embora sejamos maioria em número, as mulheres ainda precisem ser tratadas com o status de minoria e terem órgãos de defesa, leis específicas e até um Dia Internacional para que consigam valer seus direitos – mínimos às vezes, dependendo de onde nos encontremos no nosso querido globo terrestre.

Globo terrestre, aliás, que é fêmea, enquanto Gaia (louvados sejam os cientistas James Lovelock e Lynn Margulis), com um oceano, que é feminino, inclusive segundo Darwin, de onde emergiu a vida. Ponto.

E ainda bem que agora também temos até o lance do DNA mitocondrial, que rastreia nossa origem até às primeiras mulheres africanas de onde todos nós viemos. E o DNA mitocondrial que pode ser rastreado, mesmo no homem, é dado a ele pela mãe, ou seja, pela linhagem feminina. Finalmente a ciência volta a reconhecer, em termos genéticos e biológicos, algo que já vivemos como espécie muito antigamente, durante as culturas matrilineares, e que os judeus ainda preservam até hoje: o conhecimento de que a mulher é quem transmite uma linhagem.

Como do paleolítico e do neolítico só restaram as pontas de flecha, de lança e outras ferramentas como martelos e enxadas primitivas, que podem ser expostos em museus, em geral é esquecido que o papel da mulher naquele mesmo período foi de fundamental importância para toda a evolução da humanidade. Enquanto os homens amarravam uma pedra num pedaço de pau e saíam para caçar, as mulheres estavam tecendo, fazendo cerâmica e aprendendo leis da química e da física através do ato de cozinhar, curtir o couro e descobrir plantas curativas.

Não estou menosprezando de maneira alguma o papel do homem, estou apenas buscando elevar e lembrar da importância do papel da mulher para várias das conquistas da nossa civilização humana. Pode parecer redundante, mas precisamos nos lembrar disso, porque a gente ainda esquece, e as mulheres seguem se diminuindo e se sentindo menos em várias instâncias que vejo por aí.

A arqueologia demonstra que os primeiros trinta mil anos do homo sapiens foram dominados pela celebração dos processos do feminino: menstruação, gravidez, dar a luz – tudo sempre ligado aos ciclos de fertilidade da terra também. Os ritos funerários, da mesma forma, eram feitos colocando o cadáver em posição fetal e tingindo-os com ocre vermelho, lembrando o sangue, para que a pessoa fosse devolvida carinhosamente ao ventre da mãe original, a grande Mãe, o chão, a Terra.

Para mim, uma cultura que faz isso não tem nada de primitiva, tem sim uma noção muito linda de cosmologia, de ciclo, de pertencimento.

É relativamente recente um fenômeno entre os acadêmicos que passaram a negar e desacreditar de várias afirmações e descobertas feitas nos anos 60 e 70, relegando achados e símbolos aos planos mitológico ou arquetípico e duvidando até mesmo que em algum momento o ser humano cultuou de fato a Deusa como grande criadora.

Dadas as circunstâncias de nossas vidas, a Terra é muito mais importante do que o Céu, pois Ela dá vida a tudo, e Ela é palpável, tangível. Se há uma Criadora, é sobre Ela que caminhamos todos os dias. Por isso não vejo o paganismo como abstrato. Taí uma divindade que eu posso tocar. E comer, e dormir, e respirar. Aliás, segundo a Hipótese Gaia, a atmosfera é a Mãe respirando!

O Deus masculino das religiões monoteístas (cristianismo, judaísmo e islamismo) surge no deserto, da experiência de povos que sofriam a opressão da aridez existente entre o infinito de areia e céu. Não tem verde, não tem vida, não tem água. Por isso, o deles é um Deus estéril, cruel, punitivo, que exige sacrifícios de sangue, se opondo à abundância verdejante e às oferendas de grãos que eram dedicados à Deusa Mãe.

É uma tremenda arrogância da nossa civilização se achar o auge da evolução humana e considerar todas as outras culturas como inferiores, primitivas ou selvagens. E a isso, soma-se a arrogância psicanalítica e a de várias teologias dos últimos dois mil anos que consideram as culturas pagãs como “subdesenvolvidas espiritualmente”, como se as culturas matrifocais e o culto à Terra fossem representativos da “infância da humanidade”.

Primitivos e rudimentares somos nós que até na morte nos apartamos de nossa origem e fazemos da Mãe um elemento a ser dominado, subjugado e, por isso mesmo, estamos abusando da paciência dela e precisamos começar esse papo de “salvar o planeta”, quando na verdade é uma tentativa de salvarmos a todos nós. A Terra, se ficar incomodada de verdade conosco, dá uma única chacoalhada, e babaus. Adeus ser humano. Gosto da hipótese de que não somos a primeira raça e não seremos a última a passar por aqui. Já a Terra, a Mãe, Ela sim pode continuar e se refazer rapidinho depois de nossa extinção.

E nossa civilização segue se referindo ao mundo natural como algo fora de nós, esquecendo que somos animais mamíferos e somos parte dessa natureza.

Lembro de uma índia americana que conheci, Chante é o nome dela, uma senhora de idade, de longos cabelos brancos, muito forte e muito linda. Estávamos eu e ela participando de um mesmo workshop anos atrás, e ela comentou que o branco tinha de parar de sentir culpa, que a culpa estava atrapalhando tudo, porque a culpa continuava nos mantendo separados, e o importante agora era recuperarmos nossa relação direta com o mundo vivo que nos cerca.

É por isso que sinto que o paganismo cresce tanto mundialmente, porque as pessoas estão com sede de conexão, e um retorno ao culto e celebração do nosso entorno, do nosso corpo, dos processos naturais e do nosso planeta chega a ser um alento e oferece uma boa possibilidade de caminho.