Categoria: sagrado feminino

Convite para um círculo de Lua Roxa

Como viver o sagrado feminino depois de uma histerectomia?

Quando entramos em contato com a energia do sagrado feminino, fazendo o resgate da sacralidade de nossos corpos e de nossa energia autêntica como mulheres, aprendemos a celebrar nossos ciclos mensais e nosso útero. O útero é o grande centro energético feminino, o lugar onde podemos criar e gestar não apenas crianças humanas, mas todos os nossos projetos, nossos relacionamentos, nossos rumos, nossas crias mentais.

No entanto, mesmo vibrando e trabalhando com nossos ciclos aprendendo a amar e respeitar nossos corpos de fêmea, não estamos blindadas contra problemas hormonais, cistos, miomas e até câncer. A ferida feminina é muito antiga e muito profunda, e tantas vezes vivemos essa ferida fisicamente em nossos corpos.

Mesmo quem não descobriu ainda esse caminho da sua sacralidade, pode ficar atônita e perdida ao receber a notícia de que precisará passar por uma histerectomia. São muitas as emoções e os estigmas que acompanham a ideia de uma mulher que perdeu seu útero: há uma sensação de mutilação, de vazio, de uma perda tremenda e irreparável, há o alívio de não ter mais os sintomas graves a cada sangramento, há o alívio de não ter mais o sangue todos os meses – e pode haver também o luto da perda desse ciclo, desse tempo mensal que nos regra e organiza, limpa e purifica.

Na ordem natural das coisas, temos nossa menarca, depois ao longo da vida fértil podemos ou não gestar e parir, e nos parece garantido que teremos anos e anos de menstruação em menstruação até que um dia esse sangue se despeça de nós no processo da menopausa. E como fica para nós que temos um corte súbito desse processo? Cujo sangue é forçosamente parado com a retirada do útero? Como vivemos esta passagem, este limbo, muitas vezes ainda bem jovens?

Sketch de Circe – de John Williams Waterhouse

Na espiritualidade feminina, aprendemos que há três faces da Deusa: Donzela, Mãe e Anciã. E onde nos enquadramos nós que ainda não somos as Velhas Sábias pós-menopausa, mas também não temos mais a experiência cíclica do arquétipo da Mãe? Que tipo de Mulheres Sábias poderemos ser?

Somos talvez invisíveis socialmente na nossa dor e na nossa vivência, mas somos muitas e temos nossas particularidades. No meu caminho de vivência da sacralidade feminina iniciado há duas décadas, ainda estou tentando me encontrar e me entender energeticamente como um ser cíclico tendo perdido meus ciclos visíveis há quatro anos.

Fiz a formação de Lua Roxa com a autora DeAnna L’am em novembro de 2019, e uma das propostas que ela faz é a criação de um círculo de Lua Roxa, para mulheres na perimenopausa e menopausa, para um espaço espiritual de partilha de nossas experiências e aprendizados. O Círculo de Irmandade que eu estou começando é focado em mulheres que pararam de sangrar por terem passado por histerectomia (ou que vão passar por isso em breve), pois essa é a minha experiência, a minha vivência, e é isso que posso partilhar e trocar. 

Todas as mulheres pertencem às Tendas Vermelhas, lugares onde as mais velhas podem oferecer seus dons e sabedoria às irmãs de todas as idades. Mulheres na menopausa ou que não sangram mais pertencem aos Círculos de Lua Roxa, onde como iguais, trocamos experiências ainda não vividas por aquelas que seguem menstruando.

Não precisamos viver nossas histórias de forma isolada, este círculo é um convite para um espaço de apoio, de nutrir e cultivar um coletivo de mulheres que partilham as mesmas cicatrizes.

A proposta é para um círculo mensal ou bimestral, onde nos encontramos para atividades e trocas. Como uma Ativadora Lua Roxa de Nível 1, sou apta a facilitar esta roda, mas também participarei dela, recebendo as mesmas bênçãos e curas neste espaço sagrado. Portanto, como estarei ali como igual, este círculo não tem um valor de troca. Ele é gratuito, mas vai pedir da sua energia, da sua abertura, vai exigir seu comprometimento.

Este é um chamado para você tirar um tempo para si, para se entender com suas energias e sua sacralidade dentro de um espaço espiritual de apoio entre iguais.

“Os CÍRCULOS DA LUA ROXA geralmente ocorrem em espaços compartilhados, mantidos por grupos de mulheres dedicadas, abertos a todas as mulheres de um bairro/vila/comunidade, que estão na jornada da pré-menopausa, menopausa ou pós-menopausa. São espaços onde as mulheres se reúnem apenas para ESTAR.”

Este é um convite para você co-criar este espaço comigo e com a Danielle Sales que será minha parceira na organização de nossos encontros.

DATA: 28 DE MARÇO DE 2020

Das 14h30 às 17h

Local: próximo à estação Borba Gato da linha lilás em São Paulo.

Por favor preencha a ficha de inscrição, nos contando um pouco de você. As vagas são super limitadas e você receberá o endereço do encontro ao ter sua inscrição confirmada.

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A volta do Caldeirão!

Depois de um longo hiato para trabalhos de curas pessoais meus, estou de volta com uma nova edição do curso Ativando o Caldeirão de Poder Feminino. Como acredito firmemente que a gente só consegue levar as pessoas até onde a gente mesmo se aventurou a chegar, precisei me dar um tempo para eu ter o tempo de processar uma experiência muito nova na minha vida, e agora me sinto em condições de partilhar mais uma vez minhas descobertas e guiar vivências com uma nova turma.

Este é um curso ritualístico e vivencial, bastante intenso em seus processos que se propõe a despertar a magia feminina extática e espontânea nas nossas vidas, propor curas de autoestima, de dinâmicas de relações e de aceitar a mulher selvagem que habita em nós, a diva-feiticeira que escreve seu próprio destino.

Seguem as datas e as devidas informações. São três módulos, só poderá participar do Módulo II quem tiver completado o Módulo I, e assim por diante.

Ativando o caldeirão de poder: um curso de magia feminina baseada no valor pessoal e na sabedoria do corpo

 O verdadeiro caldeirão de toda a magia habita dentro de cada mulher: é o nosso ventre. O útero tem uma energia tão incrível que pode formar e gestar não apenas o milagre de uma vida humana, mas também nossos projetos, sonhos e relacionamentos. Despertando, honrando e nos conectando a essa energia tomamos o trono do poder das nossas vidas como verdadeiras imperatrizes que somos.

Este curso propõe vivências e ritos profundos para fazer este resgate e conexão, mudando sua energia de vida.
É dividido em três módulos que são uma construção. O primeiro é independente, mas é um pré-requisito para o segundo e assim por diante. Este é um convite para você despertar e viver sua energia em sua máxima potência. Vamos?

 Módulo 1: Uma mulher, quatro arquétipos: Entendendo os poderes secretos do nosso ciclo e das nossas fases; celebrando a sacralidade de nascer e viver mulher

 Nesse workshop vamos abordar um pouco das representações femininas sagradas ao longo da história, nos reconectar com nossa divindade interior,  reconhecer os talentos e energias de cada fase de nosso ciclo menstrual e cada fase da vida, despertar para nossa natureza verdadeira de força, amor e criatividade e firmar um compromisso ritualístico com ela.

 Alguns tópicos abordados:

* imagens de Deusas ancestrais e nossa reconexão com a Sacralidade Feminina   *o útero como centro de força e criação da nossa vida *entendendo nossa face Donzela, Mãe, Feiticeira e Anciã * mistérios do sangue: da menarca à menopausa * o ciclo menstrual, seus arquétipos e as fases da lua *cuidados naturais com o corpo; aromaterapia e ervas que auxiliam nas diferentes fases da mulher.

 Dia 16/06/18 No Laboratório Lunar – Rua Cayowaá 895, São Paulo

Das 10h às 18h com pausa para o almoço. Inclui coffee break e todos os materiais.

Investimento: 250,00

INSCREVA-SE  CLICANDO AQUI

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 Módulo 2: O casamento sagrado; fazendo as pazes com nossa sexualidade, recuperando o prazer, alquimia e magia sexual.

No segundo encontro, vamos tratar de nossa relação com o outro, em especial, com o masculino externo a nós, representado nos nossos parceiros sexuais e afetivos; as dinâmicas que se desenvolvem e que precisam ser curadas e acordando para as armadilhas sociais nas quais, muitas vezes, entramos de bom grado. Também vamos falar do grande poder da sexualidade e o que ocorre em níveis energéticos para a mulher no encontro íntimo, além da fundamental busca e redescoberta do prazer feminino para vivermos uma vida plena de força e alegria pessoal. Os rituais trabalhados serão de limpeza energética de nosso útero para libertação de padrões (e amarras) passados.

Data: 15 de setembro  Horário: das 10h às 18h    Local: no Laboratório Lunar

Módulo III: Reconhecendo a mulher selvagem, o poder da feiticeira sobre sua cura e seu destino.

Neste encontro caminhamos para o encerramento do ciclo, trabalhando curas familiares, reconhecendo nossos poderes e ferramentas pessoais como caminho para uma vida plena em conformidade com nossa força interior.

Data: 1/12/2018   Horário: das 10h às 18h    Local: no Laboratório Lunar

PETRUCIA FINKLER é astróloga, taróloga, Moon Mother iniciada por Miranda Gray, e praticante de bruxaria. Natural de Porto Alegre, desde 2001 trabalha com curas do feminino a partir de uma visão xamânica e energética. Depois foi morar no exterior e participou ativamente e também conduziu círculos de mulheres em Chicago, EUA, onde passou nove anos. De volta ao Brasil, radicada em São Paulo, entre 2012 e 2013 foi uma das facilitadoras da roda feminina Irmandade das Pedras em São Paulo e, em 2015, deu início ao curso Ativando o Caldeirão de Poder Feminino. Ela é palestrante convidada de diversos eventos místicos, faz atendimentos, mantém o blog Elemento Chão e ensina magia em seu Conclave da Rosa e do Espinho.

Abrindo portais de possibilidades

“Toda mulhcooking-poter é feita à imagem da Deusa.”

Lembro tão claramente da primeira vez que escutei isso, e o quanto esse pensamento instantaneamente abriu em mim um portal de possibilidades e uma elevação imediata de autoestima. Eu já tinha lido as Brumas de Avalon anos antes, já tinha achado lindo mulheres cultuando a Deusa, como criadora de todas as coisas e cujos rituais são os atos de amor e prazer; já havia conhecido um coven de Wicca em Porto Alegre em 1994 e estava levemente familiarizada com a ideia de paganismo, mas nada disso mexeu comigo tão visceralmente quanto o trabalho de cura xamânica do útero do qual participei alguns anos mais tarde.

Nascer e crescer mulher traz em si experiências muito próprias e por vezes muito doloridas por estarmos inseridas em uma sociedade que aprendeu a valorizar muito mais os traços e atitudes masculinas e acabou restringindo as mulheres a certos papéis e limites. Temos, aparentemente, apenas duas escolhas: o caminho do feminino tradicionalmente aceito pelo patriarcado e a sociedade de consumo, ou abrir um atalho à força, endurecendo nossa natureza para sermos aceitas como iguais em um mundo gerido pelo clube do bolinha. Esse clube que aceita, espera e louva as figuras, por exemplo, da mãe perfeita, da barbie, e até do furacão sexy, ao mesmo tempo, abusa de todas elas, pois parece que podem ser usadas quando convém e descartadas, magoadas ou traídas quando convém. Se vamos pela outra senda possível, se não crescemos com uma beleza tradicional e estonteante, ou desejos imediatamente maternais e casadoiros, mas tivemos a sorte de sermos inteligentes e reconhecidas por isso, então, para nos inserirmos e sermos respeitadas de verdade, acabamos por nos masculinizar demais, exacerbando nossa competitividade, nossas cobranças e encontrando um sem fim de dificuldades para relaxar na vida e curtir nossos relacionamentos. Essa postura de animus muito desenvolvido que foi ensinada (e muito bem captada pela minha geração), é um dos grandes paradoxos que estamos vivendo enquanto fêmeas (e machos) e está muito bem descrita nesse texto de Ruth Manus.

Mas será só isso mesmo? Onde podemos vivenciar algo diferente em nossas vidas? Até que ponto nossas escolhas e atitudes sustentam padrões negativos para nós mesmas e até que ponto estamos explorando de fato todas nossas opções e caminhos? É possível um reencontro sagrado e verdadeiramente feminino consigo?

E o quanto um encontro assim, que fortalece nossa natureza verdadeira, pode ser benéfico à toda nossa espécie? Pois afinal, mesmo os homens estando no comando, eles não estão bem, não estão felizes. Se metade da humanidade passa mal, a outra metade, mesmo dominante, não pode estar saudável.

Essas perguntas não têm respostas prontas nem muito menos fórmulas mágicas propondo soluções. São buscas que podem levar a vida toda, mas, com todo o movimento do ressurgimento da Deusa e da proliferação linda e amorosa dos círculos de mulheres, dá para ver que são uma ânsia compartilhada, uma sede de nós mesmas que afeta cada vez mais mulheres que querem viver uma autenticidade, uma irmandade, uma vida mais completa seja lá do que for que nosso âmago e alma precisem exprimir no mundo — e que passa pelo reconhecimento de que nossos corpos e nossas expressões são sagrados.

Dentro da minha busca, já passei por vários momentos, vários cursos, vários círculos, várias observações de vida e fiz um bocado de descobertas. E  é com imensa alegria que agora anuncio que o curso “Ativando o Caldeirão de Poder Feminino” , depois de alguns ensaios, vai finalmente sair, agora em agosto.

Dia 1/8 vai ter uma turma bem pequena na minha casa, as vagas já estão quase completas.

Dia 8/8 o curso acontece no espaço Terapia Femmes na zona sul de São Paulo. Clique aqui para ver o evento.

O primeiro módulo é voltado à retomada do seu poder pessoal e da sua sacralidade como mulher. Vamos passar um dia de vivências e rituais  para celebrar nossa divindade e nos comprometermos com um viver mais amoroso e suave. Também vamos falar e entender as diferentes personalidades e talentos que manifestamos durante as quatro faces arquetípicas que vivemos durante um ciclo menstrual e as fases arquetípicas que vivenciamos ao longo da vida, desde a Donzela até a Anciã.

Uma de nossas maiores forças está em descobrir que é possível amar nossos ciclos – do mês e da vida, entendendo a magia e a força de cada um, despertando todo o potencial do nossos úteros, nosso caldeirão criativo que nutre e gesta nossos projetos, sonhos e relacionamentos.

O curso usa conhecimentos e técnicas que vem de tradições xamânicas, como os Toltecas, da magia ocidental com origem cabalística ou celta, e de ensinamentos divulgados pela autora e terapeuta energética Miranda Gray.

Todo trabalho energético e ritualístico mexe com coisas profundas  e seus efeitos podem ser imediatos ou levar anos, não há como prever, mas pela possibilidade inerente de transformação que trazem em si essas propostas, é importante que atendamos o chamado ao nos sentirmos prontas.

Se esse for o seu momento, venha se juntar a nós.

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Lua Branca e Lua Vermelha

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Imagem da artista, escritora e curadora Miranda Gray usada em seus trabalhos do feminino como o curso Red Moon e a Bênção do Útero

Mulher é um bicho esquisito. Já ouvi isso muitas vezes. Não apenas somos “de lua”, como já ouvi dizerem que é preciso “temer um bicho que sangra três dias sem parar e não morre”. Sem dúvida, só esse motivo já basta para deixar os homens desconfiados desses nossos mistérios do sangue.

Os mistérios da natureza fêmea mamífera humana são muitos. Acrescente-se ao sangramento (que em média varia de 10 a 80 ml por ciclo) o fato de que, em sociedades antigas, quando não havia luz elétrica, as mulheres sangravam todas juntinhas na lua nova. E ficavam todas recolhidas em tendas, segundo alguns relatos que sobreviveram, sangrando sobre a terra ou a palha, porque, afinal, não dá para ficar se locomovendo com sangue escorrendo pelas pernas num período em que ainda não havia nem toalhinhas, nem absorventes, nem ob, nem diva cup. As mulheres cíclicas de então ficavam nessas “tendas vermelhas” e eram atendidas pelas meninas mais novas e pelas mulheres mais velhas, experiências que ainda não chegaram ou que já passaram por essa consonância da lua com o útero. Os homens não visitavam essa redoma protetora. Mais um mistério. Que raios se passava lá dentro? Com todas as mulheres reunidas? E era sempre justo quando a lua sumia do céu que a maioria das mulheres cíclicas parava de circular pela aldeia e ia se enfiar numa cabana para sangrar junto a suas irmãs de tribo.

Digo a maioria porque a sociedade sempre conheceu mulheres do contra, as que tinham o ciclo inverso e sangravam nos dias da lua cheia: as mulheres do Ciclo da Lua Vermelha. Essas não acompanhavam a energia crescente e decrescente da lua com seus úteros,elas circulavam normalmente pela aldeia e ajudavam quando as outras estavam encerradas na tenda vermelha, porém sumiam de circulação justamente na plenitude lunar, quando todos faziam festas para a deusa brilhante da noite, que abençoava afastando a escuridão, exacerbando a sensibilidade, provocando partos, subindo marés e indicando a fertilidade das mulheres que acompanhavam o ciclo da lua branca.

Não pensem que as mulheres “primitivas” não faziam ideia de quando estavam férteis. Não pensem. É subestimar demais nossa capacidade de observação e até mesmo a inteligência corporal animal. Tá certo que os homens estavam ocupadíssimos amarrando umas pedras lascadas nuns pedaços de pau para fazer machadinhas e se reunindo em grupos para derrubar o mamute e garantir o sustento da tribo, mas pressupor que a parcela da espécie que ficava parindo bebês, cuidando de crianças e velhos e desenvolvendo melhorias para a comunidade  através de experimentos químicos super complexos como curtir peles e couros, transformar alimentos através do fogo e da cocção e a descoberta de ervas curativas não tinha sequer noção do seu próprio ciclo corporal é um pouco tolo.

Para comprovar isso, taí a Vênus de Laussel, também chamada de “Femme a la corne” um relevo esculpido em calcárioVenus de Laussel ainda no paleolítico, entre 29 e 22 mil anos atrás, que, como tantas outras expressões encontradas dos humanos daquele período da nossa história, retrata uma mulher de medidas exuberantes (ou seja, muito fêmea e redondinha!), sem detalhes de rosto, mas com os seios,  as coxas, o ventre e os genitais bem desenhados. Essa, que foi encontrada em uma caverna na França, tem a mão esquerda sobre o ventre, e a direita segurando um objeto em forma de meia-lua ou chifre, com treze marcações, para o qual ela aparenta estar olhando. Uma das interpretações mais comuns feitas pelos estudiosos é de que a figura seja uma deusa da fertilidade ou uma sacerdotisa xamânica, segurando o que seria  uma espécie de calendário rudimentar, marcando o número de lunações em um ano. E quem mais tem treze “luas”em um ano? Quem acompanha as lunações com sangramentos mensais?  Aí está… A Vênus de Laussel, por ser uma figura feminina que segura essa lua  com as treze ranhuras, demonstra claramente que era sabido que a mulher tinha treze sangramentos em um ciclo solar anual. Para reforçar essa ideia, a imagem ainda por cima tem vestígios de ocre vermelho, indicando sangue.

Esse pigmento vermelho, trata-se de um óxido de ferro mineral usado em pinturas e tingimentos,  é também encontrado em um número muito grande de sepultamentos e tumbas do período pré-histórico, inclusive no nordeste brasileiro. É notável a quantidade de achados arqueológicos de pessoas enterradas em decúbito lateral (de lado) e posição levemente encolhida, quando não claramente fetal, em diversos continentes da Terra, com seus restos mortais, ossos, ou mesmo fibras que envolviam os corpos cobertos com esse pigmento avermelhado. Uma das interpretações é que esses povos claramente entendiam que, assim como todos viemos de um útero vermelho e nascemos envoltos em sangue, da mesma forma, também nos ritos fúnebres, somos devolvidos envoltos nesse sangue simbólico ao útero da terra, ao útero da natureza, a Grande Mãe, que nos recebe de volta em seu ventre que nos transformará e nos parirá em um outro mundo ou plano existencial.

Se de uma mãe viemos, a uma mãe voltaremos.

A sintonia dos nossos ciclos, mesmo como mulheres modernas usando apps de receitas e vendo séries no netflix, ainda tende a acompanhar a lua, seja em consonância, férteis na lua cheia e sangrando na lua nova, ou expressando a energia oposta. São os chamados Ciclos da Lua Branca e da Lua Vermelha.

Ao longo da vida oscilamos entre os dois, passeando de um ponto ao outro dependendo de como estamos com nossa energia: se mais “maternas” e concordantes com expectativas tradicionais de gênero sobre a passividade e acolhimento femininos (características muito louvadas em nós pela sociedade patriarcal), ou se estamos indo contra a correnteza, tentando criar um novo caminho, testando novas águas solitárias, nos colocando à margem dos papéis prontos e sendo imprevisíveis, amazonas, misteriosas e indomáveis.

É muito interessante observar os movimentos do nosso ventre nesse sentido para entendermos a vontade do corpo e o que ele nos revela sobre a energia que nos interessa *de fato* em cada momento.

Se você não está menstruando nem na lua nova nem na cheia exatamente, é porque seu ciclo está oscilando rumo a uma direção ou outra. Fique atenta para acompanhar para onde ele aponta.

A Vênus de Laussel, do alto de seus 45 cm, nos mostra que sempre soubemos das coisas, o importante é prestar atenção e valorizar a sabedoria que nos pertence desde sempre.

**esse texto nasceu como parte da preparação para o curso Ativando o Caldeirão de Poder Feminino. Para um dia de vivências ritualísticas e papos profundos sobre a essência de nossa natureza cíclica e sacralidade femininas, entre em contato comigo para saber das próximas datas ou organizar uma turma na sua região.

Ativando o caldeirão de poder feminino

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Minha jornada de cura do feminino começou em janeiro de 2001, através de um curso de cura de útero que fiz em Porto Alegre, utilizando princípios do xamanismo e da magia. Minha vida nunca mais foi a mesma depois disso – e percebi que o mesmo se deu com as outras participantes daquela jornada de mistérios. Foi um festival de mudanças na vida de cada uma – casamentos, gravidez, novos empregos, mudança de cidade, separações – tudo propiciado por essa conexão profunda com nossa sacralidade, que transforma nos empoderando, radicalizando nossa autoestima como mulheres.

Desde então, apenas uma vez eu ofereci parte desse curso, em Chicago, para um grupo bem pequeno, que também acabou experimentando curas após o processo. Alguns dos temas foram também explorados em outros workshops que facilitei falando do poder de nosso sangue mensal e do nosso trono de poder interno que é o útero.

Mas será a primeira vez, desde então, que vou oferecer esse trabalho de maneira assim completa – contando com novas descobertas e técnicas que foram chegando ao longo desses mais de 14 anos de jornada feminina em rodas de mulheres, cursos, formação e práticas mágicas. Se sentir o chamado, venha se juntar a nós e prepare-se para renascer dessa autogestação como uma nova mulher.

 Ativando o caldeirão de poder feminino

cooking-potO verdadeiro caldeirão de toda a magia habita dentro de cada mulher: é o nosso ventre. O útero tem uma energia tão incrível que pode formar e gestar não apenas o milagre de uma vida humana, mas também nossos projetos, sonhos e relacionamentos. Despertando, honrando e nos conectando a essa energia tomamos o trono do poder das nossas vidas como verdadeiras imperatrizes que somos.

Este curso propõe vivências e ritos profundos para fazer este resgate e conexão, mudando sua energia de vida.

É dividido em três módulos que são uma construção. O primeiro é independente, mas é um pré-requisito para o segundo e assim por diante.

Este é um convite para você despertar e viver sua energia em sua máxima potência. Vamos?

 Módulo 1: Uma mulher, quatro arquétipos: Entendendo os poderes secretos do nosso ciclo e das nossas fases; celebrando a sacralidade de nascer e viver mulher

 Nesse workshop vamos abordar um pouco das representações femininas sagradas ao longo da história, nos reconectar com nossa divindade interior, reconhecer os talentos e energias de cada fase de nosso ciclo menstrual e cada fase da vida, despertar para nossa natureza verdadeira de força, amor e criatividade e firmar um compromisso ritualístico com ela.

Alguns tópicos abordados:

* imagens e vivências com  Deusas ancestrais e nossa reconexão com a Sacralidade Feminina *o útero como centro de força e criação da nossa vida *entendendo nossa face Donzela, Mãe, Feiticeira e Anciã * mistérios do sangue: da menarca à menopausa * o ciclo menstrual, seus arquétipos e as fases da lua *cuidados naturais com o corpo; aromaterapia e ervas que auxiliam nas diferentes fases da mulher.

Vagas Limitadas!!

Quando: 20/06/2015
Onde: Espaço Terapia Terapias Femmes
Rua Sócrates, 772 Bairro: Jd. Marajoara – São Paulo
Horário: 10h às 18h, com pausa para almoço
Investimento: R$275,00 à vista ou 2x 137,50 até 15/06,após R$ 324,00 (inclui os materiais)
Inscrições e Maiores Infos:
Bruna Canepari
Email: canepari.bruna@gmail.com ou inbox

E depois deste módulo, se você quiser continuar teremos:

Módulo 2: O casamento sagrado; fazendo as pazes com nossa sexualidade, recuperando o prazer, alquimia e magia sexual.

Módulo 3: conhecendo a si mesma, limpando o passado e curando dinâmicas de relacionamento.

Os módulos seguintes ainda não têm data. Devem acontecer com um espaçamento de três meses entre si.

 

Bênção Mundial do Útero – 4 de maio, 2015

BÊNÇÃO MUNDIAL DO ÚTEROwombblessing-logo-large

– sincronização energética à distância com a autora e curadora inglesa Miranda Gray.

Dia 4 de maio, segunda-feira, às 19h

Cinco vezes ao ano, milhares de mulheres em todo o planeta se conectam a essa energia transformadora da Sacralidade Feminina. A bênção desperta e energiza os três centros de poder femininos, curando padrões profundos da nossa ancestralidade e do nosso passado e trazendo poder, amor, beleza, criatividade, fertilidade, sensualidade e graça para nossas vidas.

Venha se juntar a nós em uma rede de prece, cura e comunhão com essa energia sagrada!

Para mulheres de todas as idades, com ou sem ciclo menstrual. Meninas a partir da primeira menstruação.

Traga:

* 2 tigelas de vidro ou cerâmica

* uma vela de réchaud

* um xale ou lenço que goste

*lã colorida, tesoura

*algo de comer ou beber para compartilharmos no final

IMPORTANTE: para receber a energia em seu nome, é fundamental que se inscreva no website: www.wombblessing.com para o horário das 24:00h (horário da Inglaterra)

Vagas Limitadas!

Contribuição: R$30,00
Para reservar seu lugar entre em contato com: Bruna Canepari
Email: canepari.bruna@gmail.com ou cel: 011 951273317

Local: Espaço Terapia Femmes
Rua Sócrates 772, Bairro Marajoara –  São Paulo

**como parte das atividades, vamos confeccionar bonequinhas de lã e fazer uma meditação para curar nossa linhagem ancestral feminina.

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Om Sekhmet

Várias pessoas têm encontrado este blog porque vêm à procura de Sekhmet. E eu mesma, nas minhas buscas, venho encontrando canções para Ela que quero aproveitar para compartilhar aqui.

Sekhmet é uma Deusa do Egito antigo com cabeça de leoa. Ela tem muitos nomes e muitas funções, várias delas parecem mesmo contraditórias. Ela é a Deusa da Guerra, da Pestilência e da Destruição, e ao mesmo tempo é a Senhora da Medicina e da Cura, e é através de Sua vontade que nasceram as Artes. Muitas são suas bênçãos.

omsekhmetBGA primeira música que compartilho é de Abbie Spinner McBride e, segundo a artista, foi escrita para homenagear a experiência no deserto de Nevada, para inspirar a todos que cruzam o deserto caminhando em busca de paz. (Lá nesse deserto existe um templo para Sekhmet; assunto para um outro post!)

Segundo Abbie “É um chamado em busca de orientação, uma prece por força e uma bênção de sua Presença. Cante quando quiser sentir Suas patas poderosas lhe envolvendo e protegendo. Cante quando quiser uma Mãe amorosa caminhando a seu lado. Cante quando quiser um guia para passar pelo Mundo Inferior e cante como um cântico de gratidão por este momento, este coração que pulsa, esta inspiração.”

Om Sekhmet.

Para ouvir, clique abaixo:

http://www.mcbridemagic.net/pages/pages/spinners-web/om-sekhmet.php

 

Honrando Sekhmet

Sekhmet apareceu na minha vida com uma força que é toda dela. Foi se infiltrando em uma série de coincidências, incluindo sonhos e até um desenho animado. Demorei um pouco, mas entendi o recado. Ao longo desses dez anos de relacionamento estável passamos por diferentes fases para nos conhecermos melhor.

Comecei tímida, com uma mini estátua douradinha e mal acabada no altar. Hoje até um bracinho quebrou desta minha primeira – embora diminuta – Sekhmet. Passei a acender minhas primeiras velas vermelhas pra ela, sempre em honra, em culto, em devoção. Demorei para começar a pedir.

Uma das minhas amigas que já tinha ouvido o chamado me avisou sobre a cerveja vermelha, a bebida favorita e, portanto, a oferenda principal. Mas quente ou gelada? – – Tanto faz, mas se você prefere beber gelada, então sirva gelada, dê o seu melhor para a Deusa. Preciso servir num copo? – Não é necessário, pode só abrir a garrafa, tudo bem.

Outra, uma mulher mais velha, bem mais vivida, me avisou da estátua do museu de história natural da cidade. Aquela, mesmo em estado bem regular, de nariz e orelha quebradinhos, carcomida pelos cinco milênios de história e seu trajeto do Egito aos Estados Unidos, sentada em seu trono glorioso, mas discreto, passando por vezes despercebida como pano de fundo de inúmeras fotos turísticas e balbúrdias dos grupos escolares, bem no meio do salão da exposição do Egito Antigo, aquela mesma, se move. Ela responde se você perguntar. Fui lá, no meio da semana, conversar com ela.

Sekhmet do Field Museum em Chicago
Sekhmet do Field Museum em Chicago

Ainda bem que eu tinha o português para ficar sussurrando, plantada, em meio a idas e vindas de gentes de todas as idades, tipos e etnias. Conversei, me apresentei, pedi licença, agradeci, e perguntei se ela me aceitava como filha. Quando, já satisfeita apenas por ter tido aquele quality time, com aquela conversa do fundo do coração, eu estava de saída, conformada e feliz, quando vi o gesto. Inconfundível. Exato. Perfeito. Inesperado. Totalmente inesperado. E sou mais uma a dizer: ela se mexe sim.

Já as do Louvre, que tem uma sala cheinha de Sekhmets, não respondem perguntas, não acenam com a cabeça, apenas oscilam ritmicamente em seus tronos, como quem assiste a vida e as eras passando de sua cadeira de balanço. Se tiver a chance, confira. E me conte depois, se elas mudaram alguma coisa.

Hoje o altar dela é ponto de honra da minha sala. A estátua grande que tenho foi encomendada especialmente de uma artista que a fez baseada em fotografias. É linda. E eu soube depois, que ao fazer a estrutura de aramado dentro da estátua, a artista cortou os dedos com o material, durante o trabalho. Ela me disse depois, “aí dentro tem meu sangue, dei meu sangue por essa sua estátua”.  E eu penso: que perfeito! Não poderia ser mais perfeito. E penso também: será que, para cada uma das milhares de estátuas dela que existiram em dado momento no Egito, Ela foi exigindo algum sacrifício dos escultores que se dedicavam a representá-la?

Descobri há pouco tempo que ela gosta também, óbvio, de carne crua! Isso não é o tipo de informação que se acha escrita por aí, é o tipo de informação que a gente tem acesso com a vivência e outras técnicas de buscar conhecimento. Tem outras coisas, mas vou deixando espaço para você descobrir, na sua própria jornada, a seu próprio tempo.

Mas comece com a vela vermelha, a cerveja vermelha e, se não tem uma estátua, imprima uma foto da internet, mas escolha uma tradicional, seja retratando uma das estátuas ou papiros egípcios, com ela no trono, ou de pé, com o Ankh na mão.

Se achar um pingente, compre, e leve Ela com você.

Para o altar, comece com simplicidade e vá incrementando. Como Ela é solar, pense no posicionamento de acordo com o sol, para que você fique voltada/o para onde ele nasce ou por onde ele passa ao longo do dia – leste ou norte, portanto, já que estamos no hemisfério sul.  É minha sugestão.  Mas vá descobrindo, se aventurando, se abrindo para entender e receber as mensagens sutis ou não (há!) que vão aparecer.

Ah, e hoje eu sempre sirvo a cerveja em copos. Afinal, Ela é uma Lady!P1010443

A Grande Mãe Cósmica

Estou finalmente lendo o clássico: The Great Cosmic Mother, Rediscovering the Religion of the Earth, escrito por Monica Sjöö e Barbara Mor, uma das grandes (também em número de páginas) obras que ajudam a entender melhor as origens do culto ao divino feminino e suas raízes ancestrais na experiência espiritual – e biológica – dos seres humanos.

Cada página traz informações relevantes, algumas são novas, mas na maioria, elas são, para mim, reafirmações e revalidações de outras, apanhadas em palestras, leituras e sacações daqui e dali. Já li muitos outros livros que inclusive citavam este em sua bibliografia, ou seja, é meio fonte de vários dos pensamentos e ideias que circulam nos meios pagãos.

Eu mesma levei muito tempo para me entender e me gostar sendo mulher. Demorei a apreciar o universo e  força do feminino. Cresci envelopada numa cultura mega patriarcal gaúcha e comprei bonito todos os ideais de competência, competitividade, força e rigidez do mundo masculino. Considerava minhas emoções uma fraqueza e reprimia boa parte delas, inclusive as ligadas a demonstração de afeto e abertura para criação de vínculos afetivos. Não é por menos que, para poder me reequilibrar, fiz biodança, bioenergética, terapia junguiana, rodas de cura xamânica e precisei virar atriz! O paganismo, mais voltado no meu caso para a celebração da Deusa, foi a cereja do bolo nesse meu processo de busca de valorização pessoal e entendimento do meu papel no mundo.

Mas é difícil mesmo superarmos tantas ideias já ultrapassadas que seguem agindo dentro de nós por estarem entranhadas na cultura e quiçá até em algum código genético que passamos de pais para filhos.

Por isso sempre vale lembrar que embora sejamos maioria em número, as mulheres ainda precisem ser tratadas com o status de minoria e terem órgãos de defesa, leis específicas e até um Dia Internacional para que consigam valer seus direitos – mínimos às vezes, dependendo de onde nos encontremos no nosso querido globo terrestre.

Globo terrestre, aliás, que é fêmea, enquanto Gaia (louvados sejam os cientistas James Lovelock e Lynn Margulis), com um oceano, que é feminino, inclusive segundo Darwin, de onde emergiu a vida. Ponto.

E ainda bem que agora também temos até o lance do DNA mitocondrial, que rastreia nossa origem até às primeiras mulheres africanas de onde todos nós viemos. E o DNA mitocondrial que pode ser rastreado, mesmo no homem, é dado a ele pela mãe, ou seja, pela linhagem feminina. Finalmente a ciência volta a reconhecer, em termos genéticos e biológicos, algo que já vivemos como espécie muito antigamente, durante as culturas matrilineares, e que os judeus ainda preservam até hoje: o conhecimento de que a mulher é quem transmite uma linhagem.

Como do paleolítico e do neolítico só restaram as pontas de flecha, de lança e outras ferramentas como martelos e enxadas primitivas, que podem ser expostos em museus, em geral é esquecido que o papel da mulher naquele mesmo período foi de fundamental importância para toda a evolução da humanidade. Enquanto os homens amarravam uma pedra num pedaço de pau e saíam para caçar, as mulheres estavam tecendo, fazendo cerâmica e aprendendo leis da química e da física através do ato de cozinhar, curtir o couro e descobrir plantas curativas.

Não estou menosprezando de maneira alguma o papel do homem, estou apenas buscando elevar e lembrar da importância do papel da mulher para várias das conquistas da nossa civilização humana. Pode parecer redundante, mas precisamos nos lembrar disso, porque a gente ainda esquece, e as mulheres seguem se diminuindo e se sentindo menos em várias instâncias que vejo por aí.

A arqueologia demonstra que os primeiros trinta mil anos do homo sapiens foram dominados pela celebração dos processos do feminino: menstruação, gravidez, dar a luz – tudo sempre ligado aos ciclos de fertilidade da terra também. Os ritos funerários, da mesma forma, eram feitos colocando o cadáver em posição fetal e tingindo-os com ocre vermelho, lembrando o sangue, para que a pessoa fosse devolvida carinhosamente ao ventre da mãe original, a grande Mãe, o chão, a Terra.

Para mim, uma cultura que faz isso não tem nada de primitiva, tem sim uma noção muito linda de cosmologia, de ciclo, de pertencimento.

É relativamente recente um fenômeno entre os acadêmicos que passaram a negar e desacreditar de várias afirmações e descobertas feitas nos anos 60 e 70, relegando achados e símbolos aos planos mitológico ou arquetípico e duvidando até mesmo que em algum momento o ser humano cultuou de fato a Deusa como grande criadora.

Dadas as circunstâncias de nossas vidas, a Terra é muito mais importante do que o Céu, pois Ela dá vida a tudo, e Ela é palpável, tangível. Se há uma Criadora, é sobre Ela que caminhamos todos os dias. Por isso não vejo o paganismo como abstrato. Taí uma divindade que eu posso tocar. E comer, e dormir, e respirar. Aliás, segundo a Hipótese Gaia, a atmosfera é a Mãe respirando!

O Deus masculino das religiões monoteístas (cristianismo, judaísmo e islamismo) surge no deserto, da experiência de povos que sofriam a opressão da aridez existente entre o infinito de areia e céu. Não tem verde, não tem vida, não tem água. Por isso, o deles é um Deus estéril, cruel, punitivo, que exige sacrifícios de sangue, se opondo à abundância verdejante e às oferendas de grãos que eram dedicados à Deusa Mãe.

É uma tremenda arrogância da nossa civilização se achar o auge da evolução humana e considerar todas as outras culturas como inferiores, primitivas ou selvagens. E a isso, soma-se a arrogância psicanalítica e a de várias teologias dos últimos dois mil anos que consideram as culturas pagãs como “subdesenvolvidas espiritualmente”, como se as culturas matrifocais e o culto à Terra fossem representativos da “infância da humanidade”.

Primitivos e rudimentares somos nós que até na morte nos apartamos de nossa origem e fazemos da Mãe um elemento a ser dominado, subjugado e, por isso mesmo, estamos abusando da paciência dela e precisamos começar esse papo de “salvar o planeta”, quando na verdade é uma tentativa de salvarmos a todos nós. A Terra, se ficar incomodada de verdade conosco, dá uma única chacoalhada, e babaus. Adeus ser humano. Gosto da hipótese de que não somos a primeira raça e não seremos a última a passar por aqui. Já a Terra, a Mãe, Ela sim pode continuar e se refazer rapidinho depois de nossa extinção.

E nossa civilização segue se referindo ao mundo natural como algo fora de nós, esquecendo que somos animais mamíferos e somos parte dessa natureza.

Lembro de uma índia americana que conheci, Chante é o nome dela, uma senhora de idade, de longos cabelos brancos, muito forte e muito linda. Estávamos eu e ela participando de um mesmo workshop anos atrás, e ela comentou que o branco tinha de parar de sentir culpa, que a culpa estava atrapalhando tudo, porque a culpa continuava nos mantendo separados, e o importante agora era recuperarmos nossa relação direta com o mundo vivo que nos cerca.

É por isso que sinto que o paganismo cresce tanto mundialmente, porque as pessoas estão com sede de conexão, e um retorno ao culto e celebração do nosso entorno, do nosso corpo, dos processos naturais e do nosso planeta chega a ser um alento e oferece uma boa possibilidade de caminho.

A Deusa Sekhmet

Se Ísis tem mil nomes, dizem que Sekhmet tem dez mil, e Ela é considerada a Deusa mais antiga de todas. Conhecida e reverenciada com epítetos como “Aquela que existia antes mesmo dos Deuses”, “Senhora do lugar do começo do tempo”, “Mãe dos Deuses” ou “Grandiosa da Cura”, Ela é também a “Senhora do Medo”.

A Deusa com cabeça de leão é pouco estudada e o ressurgimento de seu culto ganhou corpo nos últimos dez anos juntamente com o reforço de sua presença arquetípica.

Já existem hoje mais fontes de informação em inglês sobre essa Deusa do que quando Ela surgiu inequívoca e inevitável na minha vida em 2004. Porém, há pouquíssimas fontes confiáveis e acuradas em português, e há meses Ela me pede, ou melhor, exige, que escreva sua história na minha língua mãe.

Essa Senhora da Vida é mais conhecida por seu mito mais terrível, o da Destruição da Humanidade; mas como é possível que uma entidade com tamanho poder destrutivo tivesse erigidas em seu nome estátuas e mais estátuas por todo o Egito? Pois como tudo, Ela tem dois lados, e Aquela que destrói, é a mesma que cura.

O Mito da Destruição da Humanidade foi retirado do Livro da Vaca Celestial, encontrado nas paredes das tumbas reais entre a 19ª e a 20ª dinastia e considerado uma das narrativas mais ancestrais do Egito. Ela é filha e também o Olho de Rá. Na mitologia Egípcia, ele personifica o poder concentrado e dirigido do Sol, e o Olho é na verdade sempre feminino.

Um grupo de humanos se rebela contra Rá, o Deus Sol. O Deus convoca um conselho de deidades anciãs para pedir orientação. Entre os presentes, está o Olho. Nun, o caos primordial, sugere que Rá envie seu Olho contra os humanos rebeldes. O Olho, então, na forma de Hathor, parte para a chacina. Ela mata os rebeldes que haviam fugido para o deserto e retorna para seu pai, Rá, afirmando que Ela “subjugara a humanidade e aquilo lhe fez bem ao coração.” E assim, nasce Sekhmet. Quando Ra percebe que Sekhmet está decidida a destruir a todos os humanos, Ele muda de ideia. Chama seu principal sacerdote e manda moer ocre bem vermelho para misturar em sete mil jarros de cerveja que estava sendo preparada por mulheres. Na véspera da destruição total planejada por Sekhmet, o líquido intoxicante foi derramado sobre os campos por onde Ela daria início à matança. De manhã, Sekhmet encontra os campos reluzindo com a cerveja vermelha. Ao ver seu reflexo na planície alagada, se alegra e bebe tudo que pode. Fica então tão embriagada que sequer consegue reconhecer os humanos, e assim o desastre é evitado.[1] Ela teve de ser vencida pela embriaguez pois não poderia ser dominada pela força. Rá então saúda o retorno de sua filha e decreta que, todos os anos, as mulheres vão preparar levas de cerveja para um grande banquete em honra a Sekhmet.

Em razão dessa história antiga, a oferenda que essa Deusa mais aprecia, é claro, é cerveja vermelha.

As imagens são encontradas por todo o Egito, mas o centro de seu culto era em Mênfis, na divisa entre o Alto e o Baixo Egito. Ainda se pode visitar outros templos importantes, como o Templo de Mut em Karnak e o mortuário de Amenhotep III, que guarda a maioria de suas estátuas.

Sala de Sekhmets no Museu do Louvre

A quantidade de estátuas erigidas para Ela é assombrosa. E muitas Sekhmets podem ser visitadas hoje no Louvre, no Museu Britânico e até no Field Museum em Chicago. Acho que foi no Louvre onde me descobri em uma sala inteira só de Sekhmets!

São em geral imensas, com mais de dois metros de altura. Na maioria, Ela está sentada em um trono, segurando o Ankh na mão esquerda. A pedra escolhida pelos escultores em geral era o diorito, uma pedra cuja origem ígnea reafirma a ligação dela com o fogo e o sol. A cor negra do diorito também representa os aspectos complementares do mundo inferior: a morte e a fertilidade da terra profunda.

Das muitas deidades leoninas dos egípcios, Ela era a mais poderosa e a mais temida. Significando ao mesmo tempo destruição e proteção, portanto era melhor apaziguar essa força e garantir que Ela estivesse sempre do seu lado.

A energia solar, curadora, protetora e guardiã da justiça que Sekhmet emana tem falado ao coração de muitas mulheres e homens. Mas para amá-la, honrá-la e usar sua força com sabedoria é preciso conhecê-la. E essa foi só a primeira parte de todo um processo de apresentação. Se Sekhmet anda chamando por você, seja bem vindo/a!


[1] Wente Jr., Edward F. The Book of the Heavenly Cow, publicado em The Literature of Ancient Egypt, editado por William Kelly Siimpson. New Haven, CT: Yale University Press, 2003. p. 289-292. Tradução livre.