No ventre de Gaia

“Não somos seres humanos em uma jornada espiritual. Somos seres espirituais em uma jornada humana.”

Foi assim que a irmã Kathlee Bohn, uma freira dominicana começou sua palestra durante um retiro de fim de semana em Racine, Wisconsin. A ela coube explicar a experiência e história do Labirinto e seus usos como instrumento espiritual.  Ela sabia estar falando para um grupo de pagãs, e ela mesma disse, “Vocês seguem a senda da Deusa (You walk the path of the Goddess), é, realmente, nós mulheres estamos vivendo há tempo demais nesta sociedade patriarcal.” A partir dali, adorei a irmã Kathleen.

Labirinto no estilo cretense no Siena Center, WI

No meu retiro de inverno andamos todas num labirinto, tive visões impressionantes, entrei em meditação verdadeira, cantamos muito, aprendi sobre os templos da Deusa em Malta, me desenhei, reverenciei antepassados, escrevi, dancei e o mais importante, me reconectei com o divino feminino.

Estas religiões da Terra têm todas o meu coração. Adorando um deus que é Mulher, posso me sentir digna, acolhida, amparada, eu mesma feita à imagem e semelhança da Deusa.

Pensei nos labirínticos caminhos do universo. A primeira vez que ouvi falar em paganismo foi com um grupo de estudos em Porto Alegre. O ano era 1995, e eles formavam um dos primeiros covens de Wicca no Rio Grande do Sul. Eu era apenas convidada para estudos e as festividades abertas de alguns Sabbaths. No entanto, por um desentendimento com a líder do grupo, fui expulsa.

Das pessoas daquele primeiro grupo, um hoje é budista, outro deve ser advogado, uma jornalista de rádio, um escreve e é muito conhecido no meio web, de uma delas nunca mais tive notícias, outra deve ser professora de história, e a líder deles, uma artista plástica, se suicidou no ano passado.

Tenho a nítida sensação de que na minha história tudo teve seu momento e seu lugar: o modo como conheci estas religiões, meus estudos e vivências por onde passei e onde estou agora.

Na roda da fortuna, assim como encontrei este novo grupo, no mesmo dia, acompanhei a partida de outra pessoa, que assim como eu, também está abandonando seu país para viver no exterior.

Estar entre 50 mulheres de todas as idades (várias com poderosos cabelos brancos) me fez de novo sentir parte de um plano, de uma irmandade feminina, de uma caminhada que não é só minha, mas sim, compartilhada por todas as mulheres deste planeta.

E uma das coisas mais sagradas que eu trouxe desta experiência é a certeza de que quando uma mulher se olha no espelho, está vendo refletida ali a imagem da Deusa, e qualquer palavra grosseira, ou crítica que dirigirmos a nós mesmas é um grande desrespeito à deidade que fez nossos corpos.

Blessed Be!

* texto originalmente publicado em Argumento.net em fevereiro de 2003. O retiro de mulheres mencionado é organizado duas vezes ao ano pela organização Gaia’s Womb, em Illinois.

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